Feio era o cão vadio do bairro. Era feio de nome e de aspecto. Não tinha um olho, faltava-lhe meia orelha, coxeava de uma perna e no lugar das pintas que deveria ter na sua pele tinha cicatrizes.
Feio adorava deambular pelo bairro, tentar amizades, sobretudo com crianças porque dos Homens tinha ele más recordações.
Às crianças que lhe faziam festas ele correspondia lambendo-lhes as mãos, abanando o rabo…
Feio adorava deambular pelo bairro, tentar amizades, sobretudo com crianças porque dos Homens tinha ele más recordações.
Às crianças que lhe faziam festas ele correspondia lambendo-lhes as mãos, abanando o rabo…
A maior parte das vezes era alvo de chacota lá no bairro. Atiravam-lhe pedras, molhavam-no, chicoteavam-no com a mangueira, chamavam-lhe nomes feios. Mas Feio, a tudo isso estava habituado. A sua idade e experiência de vida ensinou-o a resignar-se.
Num fim de tarde de Verão fui sobressaltada por latidos aflitivos. Vim à janela e vejo ao fundo do bairro uma luta de cães. Um deles era Feio, os outros dois eram boxers que tinham sido atiçados pelo dono para gozo da vizinhança.
Corri pelo bairro fora e encontro o Feio imóvel, num charco de sangue. Peguei nele, ainda respirava. Afaguei-o mas pareceu-me ouvi-lo gemer, talvez o tenha aleijado. Encosto-o mais a mim e sinto que a sua língua passa suavemente pela minha orelha. Olho para ele e sinto um sinal de agradecimento, depois, vi no Feio o que nunca vi em cão nenhum, um sorriso, e morre suavemente nos meus braços.
Jamais esquecerei aquele sorriso e hoje lembro o Feio com muita saudade.
O bairro não é o mesmo, muita coisa mudou.
As crianças não maltratam os cães e até os adoptam e os nomes que lhes põe é ‘Feio e Sorriso’.
O bairro não é o mesmo, muita coisa mudou.
As crianças não maltratam os cães e até os adoptam e os nomes que lhes põe é ‘Feio e Sorriso’.
Autoria: Johnny Silva.
Adaptado: Jorge Silva.
1 comentário:
Oh minha querida, gostei tanto do que disseste +.+ *
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